sábado, 26 de maio de 2018

Sobre a "greve" dos caminhoneiros

Esta "greve" de caminhoneiros está muito estranha.

Sei que estou com informações parciais, incompletas, contraditórias etc, então vou falar só do que entendi até agora, e posso vir a mudar completamente de ideia depois.

Ela não é uma "greve"  clássica de trabalhadores. Ela é de caminhoneiros autônomos, que depois recebeu adesão de empresas de caminhões. É como se médicos e dentistas com seus próprios consultórios, advogados com seus próprios escritórios e camelôs fizessem "greve", e depois os hospitais e redes de hospitais, os grandes escritórios de advocacia e as redes de lojas e supermercados aderissem. Sim, não é uma greve clássica de trabalhadores reivindicando algo contra os patrões.

Ela não é contra patrões, e sim, contra o governo, e feita por patrões e trabalhadores autônomos, donos de seu próprio meio de produção, o seu próprio caminhão. Não se enquadra legalmente como lockout, pois não é contra os funcionários. Mas parece ser parecida com uma "greve de patrões".

É mais uma paralisação de serviços e de prestação de serviços por seus prestadores, afetando toda a população e o governo, com reivindicações contra o governo. Não é tecnicamente uma greve.

Acredito que deva ser um conjunto de grupos muito diverso, composto por autônomos e por empresas, com diferentes reivindicações e visões políticas (desde a esquerda até a extrema direita fascista). E a chance de alguns grupos não aceitarem os acordos, especialmente grupos mais "radicais", mais "cabeça quente", é bem alta. Ou seja, pode acontecer uma greve rebelde sem ser tecnicamente greve. Uma coisa que facilita isto é o alto grau de insatisfação com a economia e com o governo atual.

Caminhoneiros devem ter sido afetados com desaquecimento da economia e a destruição do nosso parque industrial, pois isto deve afetar as oportunidades de trabalho deles, e talvez mais ainda dos autônomos. Eles certamente são afetados com os custos do combustível, a quantidade absurda de reajustes nos últimos 2 anos e quanto este aumentou neste tempo. Estas flutuações de preços criam uma insegurança sobre o preço que vai pagar o combustível. Isto fica claro com o que li sobre prazos entre reajustes do diesel, que alguns pedem que seja de 30 em 30 dias, outros 60 e outros 90 dias.

Existiam reclamações sobre a antiga política de preços, que demorava muito para reajustar, com alguns dizendo (sem mostrar dados) que isto estava falindo a Petrobrás, mas não levavam em conta que, em uma sociedade tão dependente do petróleo e dos combustíveis derivados dele, preços estáveis criam uma sensação de segurança e estabilidade em toda a sociedade. E parte desta confusão com os caminhoneiros é justamente por causa da perda desta sensação de estabilidade.

Não sei quanto eu deveria apoiar este movimento, e quais pautas deles deveria apoiar. Não tenho toda a pauta de reivindicações deles. Só tenho pontos desencontrados. Não sei quanto estão pensando só neles, e quanto estão pensando no bem geral da sociedade. Acho que nem eles tem direito uma pauta para toda a categoria.

E este acontecimento, especialmente pela adesão e repercussão, deixa claro que existem grandes insatisfações em toda a sociedade, e o fracasso do governo atual.

Para leitura adicional:

Greve de caminhoneiros ou Locaute de empresas?

Extremistas de direita tentam influenciar futuro da greve de caminhoneiros

A diferença entre a paralisação dos caminhoneiros de 2015 e 2018