sábado, 21 de outubro de 2017

Desumanização do trabalhador

Trabalhei em uma empresa de software que gostava de chamar os programadores de recursos.

Eu odiava isto, pois despersonificava, desumanizava, as pessoas, o ser humano, o programador.

Eu me sentia como uma cadeira, uma mesa, um computador, energia elétrica, e não como um ser pensante. Chegaram a falar que era simplificação de "recurso humano", mas mesmo assim achava estranho, soava mal.

Aliás, tem algumas metodologias de desenvolvimento de software que despersonificam o programador, e ignoram que programar é produção intelectual, e não braçal. Mesmo com muitos programadores fazendo códigos parecidos, existem os que vão além, que tem uma compreensão maior do que estão fazendo e fazem códigos melhores, mais eficientes etc, e geralmente bem diferentes do que a maioria faz.

Estas metodologias tentam transplantar para o desenvolvimento de software o modo fordiano de produção, na qual cada operário faz uma única e simples tarefa, tal como uma máquina. E assim pessoas são descartáveis, como ferramentas.

Um dos motivos é a não aceitação das empresas de software que o software é uma produção intelectual, tal como obras de arte, que por vezes é criada de forma coletiva, por uma equipe. Este tipo de reconhecimento traria muitas implicações que não existem em produções industriais nas quais operários sempre fazem a mesma tarefa repetitiva na quais eles foram instruídos/treinados.

Mesmo trabalhadores que foram treinados/instruídos para fazer uma simples tarefa, são pessoas, e não máquinas. Elas tem direitos a serem respeitados. Elas tem uma vida. Mas, em nome do lucro, muitos empresários não querem ver isto. Só os veem como instrumento de produção, e nem sequer como potenciais consumidores (no fundo isto é contraditório).

Algumas coisas podem ser vistas na matéria do e-Farsas sobre fraldas no trabalho e alguns abusos, na matéria sobe o repórter infiltrado na fábrica da Foxconn, na entrevista do Benjamin Steinbruch ao UOL (não vi na íntegra) tem algumas coisas para se entender o que um empresário fala das leis trabalhistas (aqui tem o detalhe sobre a hora de almoço) etc.

O capitalismo, especialmente o modelo neoliberal, é concentrador de renda, e é auto-predatório. O máximo que consegue ver as pessoas é como consumidor e como meio de produção, e muitas vezes nem veem como as duas coisas ao mesmo tempo (Basta ver produções em países pobres, pagando mal aos trabalhadores, para tudo ser consumido em países ricos.). Então a visão de que são pessoas está muito limitada a estes dois pontos de vista.