quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Um pouco da história dos cinemas de bairro


Eu vi este vídeo no YouTube e achei interessante, então resolvi fazer um comentário. Mas achei que o comentário ficou tão bom que merecia não ficar perdido no meio dos comentários de um vídeo do YouTube. Então copiei para este blog, e está abaixo.

Sou do Rio de Janeiro, e tenho 52 anos.

Eu lembro que quase todos os bairros do Rio e Janeiro tinham cinema de rua. (Como, por exemplo: Vaz Lobo, Irajá, Madureira (vários), Ramos (Pelo menos 2), Olaria, Méier (vários), Piedade, Saens Peña, Botafogo etc. Soube que em Parada de Lucas também teve, e que foi demolido e atualmente é a escola de samba do bairro.).

Me lembro da minha mãe contando que ia ao cinema com o irmão a qualquer momento que tinham vontade de ir, e moravam em Piedade na época.

Muitos destes cinemas foram fechando na década de 1970 e primeira metade da década de 1980, ficando só em alguns bairros, como Madureira, Saens Peña, Centro do Rio de Janeiro etc.

Os shopping centers que surgiram nas década de 1980 e 1990 não tinham cinema, mas depois foram sendo modificados para ter, e alguns no improviso, como o Shopping Tijuca (Que tinha uma coluna em uma das salas de cinema. Depois passou por uma reforma de grande porte para ter salas boas de cinema, e as salas antigas viraram uma das filias das Lojas Americanas.), o Rio Sul que transformou parte do estacionamento em cinema, o Madureira Shopping (que transformou o que antes era um andar de uma loja de departamentos em 4 pequenas salas de cinema) etc.

Quase todos os cinemas de rua foram se tornando igrejas, e alguns foram exceção (O de Vaz Lobo, que parece que foi por vontade do herdeiro segundo me contaram, não virou igreja e permanece fechado. Alguns na Tijuca que viraram Drogaria Pacheco e Casa e vídeo, e alguns demolidos e transformados em C&A e Shopping 45. O de Parada de Lucas citado acima.). Alguns resistiram mais tempo como cinema pornô. Mas nos anos 2000 muitos dos cinemas de rua fecharam, mesmo nos bairros como Madureira e Tijuca.

Alguns cinemas, depois de um tempo fechados, ganharam vida como casas de shows, como o Imperator no Méier, com patrocínio de grandes empresas, mas isto durou alguns anos e fecharam de novo. (Soube que o Imperator tinha virado uma especie de galeria cheia de lojinhas pequenas, do tipo box.)

Aliás, tem uma região do Centro do Rio de Janeiro chamada de Cinelândia, mas parece não ter mais quase nenhum cinema lá. Um eu tenho certeza que virou igreja. Parece que o maior conjunto de salas de cinema da área virou um conjunto de box como o Imperator.

Vários de Botafogo viraram um conjunto de salas, como o Estação Botafogo (Atualmente Estação NET Botafogo) e o Estação Net Rio (Que passou por um tempo como cinema pornô.). Eles vivem com apoio de empresas, e já tiveram outras empresas como apoiadoras. Se não fosse este patrocínio, já teriam fechado.

 Atualmente ir ao cinema se tornou mesmo algo elitista, e um ritual mais complicado do que já foi. Não dá mais para sair de casa a pé e ir a uma sala de cinema, como a minha mão fazia quando jovem, exceto em alguns bairros mais nobres do Rio de Janeiro.

E cinema também se tornou muito caro para a maior parte da população. Talvez isto tenha acontecido na década de 1970 mesmo, com as perdas salariais daquela época. A popularização da TV também deve ter contribuído para isto. E assim pode ter começado a morte dos cinemas de bairro da década de 1970.