quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Sobre a Elizabeth Bishop sendo homenageada na FLIP

Eu gostei muito deste artigo. É a troca de cartas da Elizabeth Bishop (a homenageada na próxima FLIP) com o amigo Robert Lowell.

Acho que a escolha da FLIP é polêmica, não só pela escolha de uma autora estrangeira, mas que ela foi apoiadora do golpe militar de 1964. Ela caiu na propaganda contra a esquerda que existia na época, achava que a esquerda no Brasil era comunista, e seguiu o uso pejorativo e falso que era dado à palavra comunista na época (uso que voltou à moda nos dias atuais). Ela confundia tudo neste aspecto. E em um momento ela quis que o presidente dos EUA Kennedy fizesse algo contra os movimentos de esquerda no Brasil.

Mas é muito interessante ler as cartas dela, pois mostram bem um modo de ver, de uma forma bem sincera e íntima. É um ponto de vista de uma pessoa de fora do Brasil, morando no Brasil por anos, com diferenças culturais, mas apaixonada pela literatura brasileira, e ajudando a divulgá-la em seu país natal.

A conexão dela com Lota de Macedo Soares, amiga do Carlos Lacerda, ajudou a dar um ponto de vista interessante, mas bem distante das classes mais populares e pobres. Ela tinha uma posição de direita, mas não extrema direita como temos visto muitas pessoas atualmente. Era alienada em relação a muita coisa do que acontecia no Brasil.

A carta de 14 de Abril de 1964 é um tanto interessante. Deixa mais do que nas entrelinhas interesses dos EUA na política brasileira.

A carta do Lowell de 1 de Maio de 1964 é interessante em seu início. Mostra que as informações que ele tem sobre o Brasil vem da grande imprensa dos EUA, da Time. Não é uma informação de primeira mão. E ele admite possíveis problemas nos textos.

Tem uma das cartas que mostra o descaso do governador do Rio de Janeiro que sucedeu o Lacerda com a população pobre da Zona Norte, e com as vítimas dos deslisamentos. Isto a incomodou.

Ela é de direita por alienação e convívio, por sua bolha social, e por nunca ter estudado realmente o assunto. E ela caiu na propaganda da grande mídia, e dá para ver isso pelo uso que ela faz da palavra comunismo. Ela não conhece todas a realidades, não conhece todos o cenários.

Ela não é de direita por uma estupidez fascista ou ódio aos pobres, como muitos que temos visto atualmente.

Acho que vai ter muita polêmica e discussões sobre ela na FLIP.

Eu sei que devo estar impreciso, e talvez até errado, pois tive uma amostra pequena. Não sabia quase nada sobre ela antes de ler este artigo, mas acho que as cartas dela devem ser muito reveladoras, e uma boa amostra do que ela era, do que ela pensava.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Preocupação crescente

Escrevi este texto no início de outubro, e é incrível como este texto se desatualizou tão rápido.

Em menos de 2 meses o Bolsonaro tenta uma Noite das Facas Longas no PSL, o que os analistas políticos erraram feio na análise. Estes analistas dizem que foi para obter o controle do fundo partidário do partido, mas é muito mais do que isto. É para ter o controle do partido, e de toda a ideologia dele.

Ao fracassar o Bolsonaro resolve criar um partido com características fascistas, com ele controlando totalmente, de forma autoritária. Acho que era isto que ele queria fazer com o PSL.

Agora o Henry Bugalho fez um vídeo que fala que fazer comparações com Hitler, desde que devidamente contextualizado e não como uma falácia para "vencer" uma discussão, é plenamente válido.

Até um tempo atrás eu fazia comparações da situação do Brasil com o período que precede a Ditadura Militar de 1964, comparando discursos, cenários etc. Agora a coisa ficou mais sinistra. Nos últimos meses tenho visto padrões da Alemanha da década de 1930. E não sou o único, pois cada vez mais pessoas estão vendo estes padrões, como o texto do The Intercept Brasil citado acima, o vídeo do Henry Bugalho, este artigo do El Pais, e este artigo no GGN.

Estou muito preocupado, e vendo muita gente nem percebendo o que acontece no Brasil, e na América do Sul.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Sobre terrorismo na ditadura militar

Fazendo um pesquisa sobre terrorismo durante a ditadura militar achei coisas interessantes, coisas que eu conhecia mas não sabia de muitos detalhes etc.

Este atentado foi um caso famoso, e iria causar milhares de mortes, e um grande caos na cidade do Rio de Janeiro.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Para-Sar

Note que nomes de pessoas famosas aparecem para serem sequestradas e mortas, inclusive gente de direita, como o Carlos Lacerda, um dos articuladores do golpe militar de 1964. Segundo boatos, o Lacerda tinha o sonho de ser o presidente, ou ditador, do Brasil, e se voltou contra a ditadura militar quando não conseguiu isto. Tem gente que não aprendeu a lição com esta história, e está tendo de aprender na marra de novo.

Este atentado poderia causar centenas de mortos, e fracassou na montagem da bomba:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Atentado_do_Riocentro

A ditadura militar tentou acobertar.

Aqui tem vários casos:

http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/coberturas/atentados-contra-a-democratizacao/videos.htm
http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/coberturas/atentados-contra-a-redemocratizacao/duas-bombas.htm
http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/coberturas/atentados-contra-a-redemocratizacao/morte-na-oab.htm
http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/coberturas/atentados-contra-a-redemocratizacao/sequestro-e-terrorismo.htm

Alguns grupos terroristas durante a ditadura militar:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Alian%C3%A7a_Anticomunista_Brasileira
https://pt.wikipedia.org/wiki/Comando_de_Ca%C3%A7a_aos_Comunistas

Aliás, observe que o João Marcos Monteiro Flaquer, que chefiou o CCC, fez parte do governo na ditadura militar.

O Raul Careca, outro membro importante do CCC, era do DOPS e do DOI-COD.

O terrorismo de direita fazia parte do estado. Eram milícias (Onde mesmo vi esta palavra?) que faziam o trabalho sujo que a ditadura militar não podia fazer oficialmente, nem extraoficialmente.

http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/movimento-anticomunista-mac

Um ponto interessante aqui  é o apoio da CIA, dos EUA, para este grupo. É um dos muitos meios que a CIA interferiu em assuntos internos de outros países.

Ainda tem este documentário, que só pelas resenhas já vi que é bem pesado, que mostra a forma com que o exército brasileiro combateu estas guerrilhas:

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-259786/criticas-adorocinema/
https://oglobo.globo.com/rioshow/critica-soldados-do-araguaia-22512462

A esquerda só começou a guerrilha, conhecida como terrorismo pelas revisionistas históricos, depois do AI5, pois depois dele não existiam praticamente mais nenhuma forma democrática de fazer oposição, e de combater, a ditadura militar. Mas o terrorismo de direita já tinha muitos anos de atividade, e se tornou parte do estado com a ditadura militar.

Afinal, quem eram os terroristas?