domingo, 26 de abril de 2020

Mais uma Fake News envolvendo a Cloroquina e cia

No meio da direita brasileira existe uma narrativa de que a FDA aprovou a Hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19.

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ACABOUUUUUUU

Notícia saída agora do forno. Todo mundo torcendo!
Jornalista Elisa Robson escreveu:

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Destrinchando uma manipulação

Não é difícil criar uma manipulação, e muita gente cai nelas facilmente. Quanto mais emotiva e crédula a pessoa, mas facilmente ela cai, especialmente se esta manipulação atende seus preconceitos e suas crenças. Se ainda juntar um bom design, a coisa fica mais eficiente ainda.

Sempre que vejo algo apelando para sentimentos, mais cético eu fico sobre esta coisa. Mas eu sou raro. Poucos pensam assim.

Basta pensar, se apelam simplesmente para as emoções é porque não tem argumentos.

Vejamos a esta imagem.


sábado, 18 de abril de 2020

Depoimento/Desabafo complementado uma discussão sobre segurança pública

Conversando com uma estudiosa de segurança pública muito jovem eu acabei respondendo, em parte concordado com algo que ela falou, em parte expandindo, em parte dando um depoimento e em parte fazendo um desabafo.

Achei que ficou tão bom que merece ser divulgado, então reproduzo abaixo:

Eu sei. Observo a sociedade desde a década de 1970, desde que era criança.

Eu lembro do projeto dos CIEPs, que daria educação em tempo integral, que foi tão criticado pelas elites e pela classe média, pessoas que não gostavam de pobres, Rede Globo etc. Este projeto foi desmantelado.

Lembro de especialistas em segurança elogiando o projeto.

Com CIEPs os pais poderiam trabalhar tranquilamente sabendo que as crianças estavam sendo educadas, bem cuidadas, e não estariam nas ruas. Era um projeto de longo prazo.

E própria organização das cidades é absurda. Os pobres são enxotados para as periferias, para lugares longe, e perdem 3, 4 até 5 horas de transporte por dia, para trabalhar 8 horas e ainda tem uma hora de almoço. Então passam de 12 a 14 horas fora de casa, e chegam exaustos. É difícil ter interação com as crianças.

Muitos casos avós passam um tempo com as crianças, quando eles mesmos não tem que trabalhar para se sustentarem. (Mesmo em casos em que são aposentados, alguns tem que continuar trabalhando para sobreviverem.)

Eu me lembro da Av. Brasil praticamente sem favelas, mas ela favelizou na década de 1990. Ou o pessoal ocupava o lugar e perdia umas 2 horas por dia no transporte, ou morava longe e perdia muito mais.

Aliás, esta época coincide com a tentativa de privatização dos trens urbanos do Rio de Janeiro, que depois foi feita. Nesta época os trens levavam mais de 1 milhão de passageiros por dia, e caiu para uns 400 mil de tanto que foi sabotado.

No final da década de 1970 e na década de 1980 também aconteceram as mortes dos bairros. Os comércios de bairro morreram. Inclusive os cinemas. Praticamente todos os bairros do Rio de Janeiro tinham cinemas, quando não mais de um, e praticamente todos eles fecharam nesta época. Atualmente muitos são igrejas.

Aliás, eu me lembro que em Parada de Lucas tinha um bom restaurante em 1986. Me lembro comer nele. Tinham dois supermercados. Mas já não tinha cinema. Ele já tinha sido até demolido.

Talvez com a formação e expansão de grandes redes varejistas, a concentração do comércio e negócios em alguns bairros, a perda do poder aquisitivo que aconteceu nas décadas de 1970 a 1990 etc, tenha sido mortal para bairros menores, e as oportunidades de trabalho ficaram mais concentradas longe.

Como teve a perda salarial, no poder aquisitivo, e sem planejamento urbano (ou um planejamento com visão de enriquecimento de alguns, e não de justiça social) (muito do planejamento urbano do Rio de Janeiro foi para atender classes média para cima e excluir os mais pobres), os trabalhadores foram sendo expulsos para cada vez mais longe.

Fora que o Brasil se tornou de um país rural para um país intensamente urbano no período da ditadura militar, com grandes migrações para as cidades e poucos programas efetivos de fixação no campo. Boa parte da agricultura no Brasil passou a ser feita em latifúndios, mas ainda assim, boa parte do que comemos no dia a dia é produzido por pequenas e médias propriedades rurais.

As cidades não foram preparadas para receber adequadamente esta migração.

Vemos muitos problemas que foram causados por décadas de falta de planejamento social, ou um planejamento excludente dos mais pobres.

Tem saudosistas da ditadura militar que falam que na ditadura militar não existiam muitos destes problemas. Mas eles existem justamente por causa da ditadura militar, por causa das políticas que foram adotadas nela. Da famosa frase de neoliberais "Vamos aumentar o bolo para depois distribuir.", mas nunca distribuem. Aliás, por isto, e muito mais, que considero o neoliberalismo como uma forma de picaretagem.

Desculpe-me o textão, e por soar como desabafo (e ser) em alguns pontos. Acho que também é um depoimento.

Eu vivi coisas que você não teve chance de viver por causa da sua idade. Talvez fosse bom você saber disto que contei, para saber parte do caminho feito até chegar onde chegamos.

PS: Caracas. Eu me lembro vagamente do interior do cinema de Vaz Lobo, o bairro onde cresci.