O Japão era
um país arrasado no pós guerra. De uma potência industrial ele tinha se
tornado um país subdesenvolvido, empobrecido. Era uma boa fonte de mão
de obra barata. Isto atraiu indústrias. Mas o país tinha também uma
experiência industrial, o que pode ter ajudado.
Vendo
oportunidades de negócio com tecnologia o Japão se desenvolveu e ganhou
um papel importante na indústria eletrônica mundial. Em boa parte foi
por causa do boom do transístor. Pode-se falar que o rádio transistorizado foi um dos símbolos deste desenvolvimento.
Existe
até uma lenda de que, quando alguns japoneses estavam negociando o uso
da tecnologia do transístor, um dos americanos perguntou para os
japoneses para que eles queriam aquilo. A resposta foi "Para fazer
rádios de bolso.". Nisto os americanos caíram na gargalhada. Poucos anos
mais tarde quase todos os moradores dos EUA tinham um rádio de bolso
japonês.
No filme 1941
tem uma cena que faz alusão a isto. Depois de não conseguirem fazer um
rádio valvulado passar por uma escotilha do submarino, um japonês fala
para outro "Temos que miniaturizar isto.".
A
mão de obra barata do Japão no pós guerra, mais a cultura industrial que
tinham antes, podem ter ajudado a reindustrializar o Japão e torná-lo uma
potência econômica e tecnológica em algumas décadas.
Mas o
Japão era limitado. É um país pequeno, em uma área pequena, montanhosa
em boa parte, com uma mão de obra numericamente não muito significante a
nível mundial, e com grandes deficiências de matéria prima e fontes de
energia.
A China, por outro lado, tem muita
mão de obra, e barata por diversos motivos, inclusive por diferença
cambial. A China tem quase 20% da população mundial. A China tem uma boa
parte da matéria prima que precisa, uma grande área geográfica, grandes
fontes de energia (A Hidrelétrica das Três Gargantas é um exemplo disto.). Então a China pode empregar um modelo parecido
com o Japonês do pós guerra, mas em uma escala bem maior. E assim o fez.
Boa
parte da produção industrial do Mundo migrou para a Ásia, especialmente
para a China. Na gana de produzir barato, usar mão de obra barata,
grandes escalas de produção etc, muitos países passaram por uma
desindustrialização. Fábricas foram fechadas e suas produções foram
migradas para a China. Alguns produtos novos, pois tivemos um novo boom
de tecnologia nos últimos anos (Smart Phones são um exemplo disto.),
praticamente não foram produzidos fora da China.
Como
uma indústria costuma depender de outras indústrias, as fábricas fora
da China que não foram fechadas podem ter passado a depender de
produções de peças na China. As fábricas de onde elas compravam peças e
insumos podem ter fechado, ou ela mesmo decidiu por comprar peças e
insumos mais baratos produzidos na China.
A competição típica do capitalismo pode ser a sua vantagem e a sua desvantagem, e até mesmo a sua ruína.
A China teve um grande crescimento econômico nas últimas décadas explorando isto tudo.
Aqui está a primeira armadilha. Concentrar muito da produção em um lugar.
Em 2011 uma grande inundação atingiu um parque industrial na Tailândia. Muitas fábricas foram inundadas. E, mesmo as não inundadas, tiveram sua produção afetada por diversos motivos, desde ficarem isoladas até seus fornecedores serem inundados. Entre as consequências estão falta de HDs no mercado, atraso de lançamento de produtos novos etc. Se os HDs acabassem no mercado os computadores não poderiam mais ser vendidos.
Em 2011 uma grande inundação atingiu um parque industrial na Tailândia. Muitas fábricas foram inundadas. E, mesmo as não inundadas, tiveram sua produção afetada por diversos motivos, desde ficarem isoladas até seus fornecedores serem inundados. Entre as consequências estão falta de HDs no mercado, atraso de lançamento de produtos novos etc. Se os HDs acabassem no mercado os computadores não poderiam mais ser vendidos.
Com
a China se tornando virtualmente o parque industrial do Mundo, um dia
ela poderá ditar o preço dos produtos. Se ela aplicar sanções comerciais
a um país, este país terá sérios problemas para adquirir uma série de
produtos, e terá que adquirir através de atravessadores de outros
países, o que encarecerá. Fábricas de automóveis, que são espalhadas
pelo mundo, poderão paralisar, pois muitas peças vem da China.
E assim se consolida a primeira armadilha. As indústrias do mundo estão nas mãos da China.
E a segunda armadinha?
Se
você usa algo que você não tem o controle, não sabe como é produzido,
como funciona, não tem como saber se ele está realmente fazendo o que
deve fazer, e como deve fazer. Não tem como saber se está fazendo algo a
mais.
Os defensores do Software Livre falam
muito disto. Um Software Fechado não lhe permite auditar, criticar como
ele é feito etc. Desenvolvedores de Software Fechado podem colocar
código de espionagem dentro dos programas e será difícil de auditar para
saber que ele existe. O Software Livre pode ser auditado, e pode ser
instalado à partir do que foi auditado.
Durante a Guerra Fria a CIA teve a ideia de modificar as fotocopiadoras nas embaixadas da União Soviética para fotografar todos os documentos
que passassem por elas. E aparentemente depois não se restringiram à
elas. O uso de equipamento fabricado, e mantido, por empresas dos EUA
criou uma grande vulnerabilidade de segurança.
Agora, a ideia atingiu outro nível.
Placas
mãe de milhares de servidores pelo mundo, que foram fabricadas na
China, foram modificadas para introduzir um chip extra para espionar quem usasse este servidor.
Isto
faz pensar. Quantas outras placas mãe foram modificadas para isto? Tem
de outros fabricantes? E os notebooks e computadores de mesa? E os
celulares, já que 90% dos celulares do Mundo são fabricados na China.
Será que é assim que começa uma Guerra Fria cibernética. E uma guerra cibernética real? Imagine em um ataque a um país boa parte da infraestrutura e das comunicações pessoais são desativadas?
Será que é assim que começa uma Guerra Fria cibernética. E uma guerra cibernética real? Imagine em um ataque a um país boa parte da infraestrutura e das comunicações pessoais são desativadas?
Sim, colocar os outros países para fabricar as suas coisas, se abster de dominar a tecnologia da qual depende, é muito perigoso.
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